Quem conhece um pouco a história da imigração italiana em Piracicaba sabe como foi difícil criar as condições para se viver em um país com cultura em muitos aspectos distinta daquela do país de origem. A língua, as leis e os costumes eram fronteiras áridas para a maioria dos imigrantes e provocavam sentimentos angustiantes, de desamparo. Em caso de necessidade, seja por saúde ou falta de recursos financeiros, o italiano aflito não tinha para onde correr. Os mais experientes dentre eles entenderam claramente a situação e traçaram uma estratégia para a superação daquela dificuldade que abatia principalmente os imigrantes mais pobres. A união de forças e a criação de uma sociedade tornaram-se o caminho natural para recompor os ânimos e proporcionar um ambiente fraterno, de ajuda mútua. Assim nasceu a Società di Mutuo Soccorso di Piracicaba.
Houve várias reuniões para tratar do assunto, envolvendo vários grupos de italianos, que chegaram inclusive a compor diferentes sociedades. A lista de nomes que atuaram nesse sentido e marcaram época é extensa. Independente do agrupamento a que pertenceram, vemos a movimentação de Carlos Zanotta, Giovani Scolari, Antonio Ribecco, Francesco Martorelli, Michele Mancini, Pasquale Mancini, Nicola Fiore, Raffaeli Galli, Giovanni Guidi, Davide Chelotti, Egídio Infantini, Rafaeli Altieri, Caetano Villará. Francesco Ronzio, Vincenzo Bianco, Domenico Castronuovo e Francesco Midaglia, Leopoldo Lagrecca, Giuseppe Simonetti, Luigi Battista, Salvatore Provenzano, Vincenzo Spirandio, Mauro de Franeschi, Luigi Orsini, Savério Gagliardi, Luigi Gatti, Biaggio Solibelo, Giovanni Casano, Giuseppe Orofino, Antônio Caprarola, Felippo del Nero, Vincenzo di Prospero, Antonio del Nero e Giuseppe del Nero, entre muitos outros.
As versões sobre a origem da Società são distintas. Há quem defenda que ela teve origem no bairro Monte Alegre. O fato é que em 1887 foi formada a primeira diretoria da entidade, como a conhecemos hoje, presidida por Carlos Zanotta; Giovani Scolari era o vice; Antonio Ribecco, primeiro-secretário; Francesco Martorelli, segundo-secretário; Michele Mancini, tesoureiro, e os conselheiros, Pasquale Mancini, Nicola Fiore, Raffaeli Galli, Giovanni Guidi, Davide Chelotti, Egídio Infantini, Rafaeli Altieri, Caetano Villará. Francesco Ronzio, Vincenzo Bianco, Domenico Castronuovo e Francesco Midaglia.
Em 1904 foram emitidas ações para a construção do prédio que existe na rua Dom Pedro I, 781 e todos contribuíam conforme as possibilidades. “Era o início de um novo capítulo da história dos imigrantes italianos na cidade”, enfatiza o jornalista Felipe Aparecido Rodrigues, em um texto interessante publicado na edição de número 20 da revista do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP), intitulado “Além do Mutuo Soccorso: A importância da Società Italiana para os imigrantes em Piracicaba.” E qual era a filosofia da iniciativa? Estreitar os laços do Brasil com a Itália e difundir a cultura e a língua italiana na cidade, para facilitar a comunicação, uma barreira que parecia intransponível. A iniciativa ganhou tal força que no período crítico da gripe espanhola (1918), por exemplo, a società serviu de suporte para assistência às vítimas da doença, atuando em parceria com o poder público. No entanto, muitos percalços ocorreram pelo caminho e a entidade ficou de certa forma desamparada e até esquecida. Lá se vão 120 anos de história.
Significado dos 120 anos
Junto ao prédio da Società foi construída também uma obra-prima para a época: um teatro italiano, que se tornou a menina dos olhos de todos aqueles que se empenharam para a construção do prédio. O espaço ganhou a dimensão de centro cultural e movimentou toda a cidade durante décadas. Foi o apogeu de uma obra de sucesso. Com apoio da Sociedade de Cultura Artística, Piracicaba sentiu a força da italianidade. O teatro é tido como um raro exemplar no Brasil, dentro dos moldes Europeu. Por ele passaram muitos concertos musicais de alto padrão e apresentações artísticas diversas, prestigiados pela família italiana e todos os piracicabanos que buscavam um lazer de qualidade. Os italianos que necessitavam de ajuda de qualquer natureza encontravam ali algum amparo. A entidade tornou-se uma referência que proporcionava esse conforto e impulsionava a todos para que seguissem em frente. Seguiram. Tanto é que é impossível pensar a história de Piracicaba sem pensar a história dos italianos que para cá vieram e contribuíram para o desenvolvimento da Noiva da Colina. Esta história, no entanto, precisa ser fortalecida, o que só será possível com a união dos descendentes daqueles homens e mulheres que lutaram para fazer de Piracicaba, ou melhor, da Società, um pedacinho da Itália.
Hoje, o prédio da Società precisa de restauro. Hoje, o teatro italiano precisa de restauro. Hoje os descendentes de italiano de Piracicaba precisam se unir para salvar sua história, como aconteceu um dia, em que se uniram para construir a Società. Hoje, a diretoria da Società clama para que netos e bisnetos da velha guarda se unam por este mesmo ideal. O gesto simbólico vale 120 anos de memória, vale R$ 120,00. Juliano Meneghel Dorizotto, presidente da entidade, observa que, além do simbolismo, que não representa mais que R$ 10,00 por mês, os 120 têm um peso gigante para honrar um passado que não pode ficar para as calendas. “É um imperativo categórico”, enfatiza. “Nós vamos conseguir sensibilizar essa moçada e fazer novamente da Società uma referência para a nossa cultura”.
Mariana Dedini, da nova geração de descendentes de imigrantes italianos e integra a diretoria da Società
Mariana Dedini, do Conselho Diretor da entidade, enriquece esse movimento. Para ela, “a história que nossos antepassados italianos carregaram consigo quando do período de imigração ao Brasil é muito forte e requer que gerações futuras sejam demasiado gratas e respeitem à altura as dificuldades, entraves e saudades suportadas. Eu, por exemplo, sou da 4ª geração de italianos no Brasil. Meu bisnono, Mário Dedini, é quem veio da Itália no começo do século passado. Nutro por ele profundo respeito, admiração e gratidão por toda luta, empenho, inspiração e transpiração. Honrar a Società é honrar esse probo homem, meus familiares e todos os funcionários da empresa que ele construiu. Seu bisnono, Pedro Morganti, participou da construção da sede da rua dom Pedro. Tanto é que na frente da entidade há um busto em sua homenagem de cada um deles. O coordenador do projeto da unidade foi Carlos Zanotta, trisavô de Bruno Zanotta e que hoje faz parte da diretoria da Società.
“Acredito ‘de cuore’ ser uma obrigação moral manter viva a história de nossos antepassados que tanto fizeram por nosso país e cidade natal (só existimos por eles). Atualmente todos querem o direito (cidadania) mas poucos estão dispostos a cumprir com os deveres. Por isso, a filiação à Società deveria ser ‘obrigação’ para todos os descendentes com direitos, além de ser a melhor forma de preservá-los”, enfatiza Bruno.
Para ficar sócio
Não existe nada mais fácil. É só entrar em contato com a Società (19 998728585 ou 3432-7203) que você receberá uma ficha de inscrição. É só preencher, assinar e enviar de volta, tudo pelo whatsapp. As instruções para o pagamento também serão passadas de forma prática. O plano da nova diretoria é fazer um grande jantar o mais breve possível, aos moldes daqueles de origem, para uma confraternização especial, de agradecimento a todos os descendentes, netos e bisnetos de italianos enfatizando a hora de tê-los na Società, onde seus avós e bisavós plantaram uma semente de fé e esperança em um futuro próspero, que seus descendentes colhem hoje.
“Se foi uma história movida a sonhos, não podemos parar de sonhar. Afinal, são 120 anos de esperança. Há uma necessidade premente de que façamos essa religação como o tempo histórico, sob o risco de perdermos nossa própria história. Esperamos que os jovens compreendam isso que estou dizendo e venham conosco. O passo que vamos dar vai nos fortalecer, inclusive por valorizarmos o nosso sobrenome, que nos liga diretamente a esse passado de aventuras e sonhos”, conclui Dorizotto.