Società Italiana di Mutuo Soccorso e o Dia das Mães

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Società Italiana di Mutuo Soccorso e o Dia das Mães

Società Italiana di Mutuo Soccorso e o Dia das Mães

No livro Homens Sem Paz, de Constantino Ianni, sobre a emigração italiana do final do século 19, há uma passagem em que uma mãe lamenta a partida do filho para o Brasil, como se a viagem significasse a ruptura definitiva do vínculo com a velha pátria.

“Nunca mais verei estes meus filhos”, dizia a mãe, pois aquelas são terras que fazem esquecer. Não adiantavam os protestos dos jovens emigrantes de que logo estariam de volta. O sentimento era de luto. As mães sabiam que eram promessas inexequíveis, mas mantinham no ar certa esperança. “Escreva logo, meu filho; não me faça ficar preocupada; escreva logo…”

Pelo conhecimento geral, no entanto, na emigração havia somente passagem de ida, na maioria esmagadora dos casos. Afirma Ianni, “L’acqua di quel gran mare è l’acqua dell’oblio.” Ou seja, como propagava Cesidio Castile, o poeta cantor, citado na obra, “A água desse grande mar é a água do esquecimento.”

Neste dia das Mães, mesmo passados 150 anos do início do processo imigratório para o Brasil, ainda é possível dimensionar a dor dos italianos –, dos jovens que se lançaram ao Atlântico e dos pais que ficaram – sobre como seria o amanhã de famílias divididas e de projetos desenhados na nuvem da imaginação.

Ianni afirma que, atravessado o Atlântico, o passado desaparece. Apesar de todos os italianos que partiram terem tomado a decisão com a intenção de um dia voltar. Pensavam apenas em acumular capital num prazo de três a sete anos para recuperar muito do que estavam perdendo por causa da crise, e ajudar seus familiares.

Não se tratava de um processo harmonioso e feliz, evidentemente. Porque depois da partida a história mudava radicalmente e a vida dura se anunciava. Era um sentimento misturado, de esperança e angústia, uma vez que o que se planejava era de difícil execução, inclusive porque mal sabiam para onde estavam indo e onde tinham chegado. Não recebiam qualquer tipo de instrução para que pudessem preparar alguma estratégia no período estabelecido.

Os jovens iam primeiro, em muitos casos, e a espera por uma carta, para os que ficavam, com notícia feliz, demorava uma eternidade. O tempo mudou e, apesar de muitos desencontros, houve também muitos reencontros e histórias de felicidade.

Mãe Società

Como registra a história, os italianos que chegaram em Piracicaba batalharam muito para tentar preservar o vínculo com o país de origem, bem como para se ajudar. As famílias se reuniam e faziam questão de preservar valores e costumes, que hoje denominamos italianidade. Os descendentes de italiano, por sua vez, nem sempre preservaram o mesmo vínculo com a tradição, que foi se perdendo com o tempo.

A Società Italiana di Mutuo Soccorso, ao ser constituída, teve esse papel, de polo agregador de uma cultura e suporte aos seus filhos, como se fosse uma referência materna apontando o dedo para todos aqueles que se lançaram na aventura: “Nunca se esqueça da sua pátria. Esta bandeira, representada por esta entidade, carrega consigo a memória da nossa mãe.”

Quando a Società pensou em fazer uma homenagem ao Dia da Mães, pensou na relação profunda da entidade com todos aqueles italianos que chegaram na cidade sem recursos e que precisavam de um ponto de apoio, seja para um serviço de saúde, regularização dos seus documentos ou emprestar algum dinheiro emergencial, além de ser espaço para compartilhar seus sentimentos e um pouco de cultura.

Se hoje tem ganhado força a ideia de que a Società precisa ser preservada e fortalecida pelos descendentes de italiano de Piracicaba, essa importância tem muito a ver com a dimensão de mãe que ela exerceu. De acolhedora dos seus filhos, para que defendam e preservem essa longa e bela história.

Mais história

O jornalista Felipe Aparecido Rodrigues escreveu um belo texto para a 20ª edição da Revista do Instituto Histórico de Piracicaba (IHGP), intitulado Além do Mutuo Soccorso, em que aponta algumas das funções da Società em seu nascedouro: “Além do assistencialismo, as entidades procuravam disseminar o sentimento pela terra natal, comemorando datas nacionais italianas, o culto à família real e dos heróis, e campanhas para a arrecadação de donativos que eram enviados à Itália. Entre os objetivos das sociedades com esse perfil estavam os ideais de patriotismo, principalmente, mas também não faltavam atividades relacionadas a outros fazeres dos italianos, como o esporte, a religião, a educação, a cultura e prática de artes e lazer.”

Havia o fator adaptação à nova terra, que era muito difícil, em primeiro lugar pela diferença de idioma. Os recém-chegados sentiam também dificuldade para entender como funcionavam as regras e leis do Brasil. Por isso, segundo o autor, os primeiros italianos preferiam morar em colônias, porque, em grupo, se sentiam mais protegidos. Tanto é que em Piracicaba, as primeiras reuniões de italianos para fundar a Società se deu no bairro Monte Alegre, próximo à usina de açúcar, onde parcela expressiva de imigrantes italianos trabalhava, e nas colônias, onde morava, compondo um círculo de amizade e interesses comuns.

A fundação da Società Italiana di Mutuo Soccorso di Piracicaba se deu em 1887, a partir da junção de círculos italianos já existentes no município. A base dos problemas eram conflitos de interesses, muitos dos quais até violentos, e saúde, com doenças provocadas pelas condições insalubres de moradia. Vários encontros importantes ocorreram até a criação da entidade. Mais histórias no próximo artigo.

Para se associar

Ficar sócio da Società di Mutuo Soccorso di Piracicaba é muito simples. Basta entrar em contato com a entidade pelos fones 19 99872-8585 ou 19 3432-7203. Você receberá por WhatsApp uma ficha de adesão. É só preenchê-la e assinar, depois escaneia e envia de volta.



Societá Italiana
Postado porSocietá Italiana
Fundada em 1887, era ponto de referência na região. Um pedacinho da Nostra Itália, a Societá é a casa da família italiana em Piracicaba, mas acolhe pessoas de outras ascendências. Uma verdadeira mamma!