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Históricos

Preservar a memória. Valorizar as raízes. Compartilhar a história.

Sobre os Históricos

Não faltam histórias sobre a italianidade piracicabana. Desde o bairro Monte Alegre, onde se reuniu o primeiro núcleo organizado de imigrantes no final do século 19, até a construção da sede, na rua Dom Pedro, quem pesquisar os jornais da época vai encontrar, em drops de notícias, um mundo novo em construção.

Em drops, porque os jornais não tinham muito espaço para tanta notícia e a maioria delas chegava ao leitor em pequenos blocos, apenas com o essencial. O resto, compete à imaginação do pesquisador.

As histórias contadas neste site partem muito de pesquisa documentais. Os jornais serviram também para dar base à dinâmica social desenhada em artigos pelo arquiteto e pesquisador Marcelo Cachioni, que mergulhou em detalhes para trazer um conteúdo razoável de informações.

Históricos

1. História da Imigração Italiana em Piracicaba

A IMIGRAÇÃO ITALIANA EM SÃO PAULO

IMMIGRAZIONE ITALIANA A SAN PAOLO

A imigração italiana em São Paulo, iniciada no século XIX para suprir a escassez de mão-de-obra nas lavouras, foi impulsionada principalmente pelos cafeicultores do Oeste Paulista. Apesar da falta de políticas públicas estruturadas e da dificuldade de adaptação dos imigrantes ao trabalho agrícola, o governo paulista passou a incentivar sua vinda, com destaque para os italianos, que se tornaram o grupo predominante na região. Na cidade de Piracicaba, a comunidade italiana cresceu a partir de 1865, enfrentando barreiras sociais e culturais, mas formando colônias e instituições como a Società Italiana di Mutuo Soccorso para apoio mútuo. Importantes figuras como Carlo Domenico Zanotta contribuíram para o desenvolvimento urbano da cidade. Na década de 1910, a Usina Monte Alegre foi transformada em um núcleo autossuficiente por empresários italianos, enquanto outros imigrantes prosperaram no comércio e na indústria urbana. A comunidade italiana dividiu-se entre colonos rurais e empreendedores urbanos, ambos essenciais para o crescimento econômico e social de Piracicaba. No século XX, italianos se destacaram em profissões liberais, educação e industrialização, com pioneiros como Mario Dedini e Pedro Morganti. Associações culturais fortaleceram a identidade ítalo-piracicabana, que, apesar das divisões políticas causadas pela Segunda Guerra Mundial, consolidou-se pela cultura compartilhada, deixando um legado duradouro na cidade.

2. Histórica da Società Italiana de Piracicaba

AS SOCIEDADES ITALIANAS DE PIRACICABA

LE SOCIETÀ ITALIANE DI PIRACICABA

Os imigrantes italianos que chegaram a Piracicaba enfrentaram barreiras linguísticas, exploração no trabalho, dificuldades de saúde e um forte sentimento de estranhamento. Para superar coletivamente esses desafios e preservar sua identidade cultural, criaram sociedades de mútuo socorro, tradição herdada da Europa, voltadas ao apoio material, moral e comunitário. Em 1887, foi fundada a Società Italiana di Mutuo Soccorso, presidida por Carlos Zanotta. Com caráter assistencial e político, buscava proteger os imigrantes contra doenças, violência rural e problemas econômicos, além de estimular sua participação em debates sociais, sendo considerada embrião dos movimentos sindicais. Com o tempo, divergências internas originaram novas associações, como a Sociedade Filhos da Itália (1892) e o Círculo Italiano Meridional XX de Setembro (1898). Apesar das cisões, todas tiveram papel relevante, promovendo atividades culturais e beneficentes, organizando cooperativas, fundando escolas e auxiliando na adaptação dos imigrantes. No início do século XX, a Società Italiana adquiriu sede própria e consolidou-se como instituição central da colônia italiana em Piracicaba.

3. Histórica do Edifício da Società

O EDIFÍCIO SEDE DA SOCIETÀ ITALIANA DI MUTUO SOCCORSO

L’EDIFICIO SEDE DELLA SOCIETÀ ITALIANA DI MUTUO SOCCORSO

O edifício sede da Società Italiana di Mutuo Soccorso foi construído pelo imigrante italiano Carlo Domenico Battista Zanotta em estilo classicista renascentista, com fachada simétrica, colunas dóricas e elementos ornamentais como janelas geminadas, modilhões decorativos e balaústres. No interior, destaca-se um teatro com palco em arco abatido, camarins e salão no subsolo. Na década de 1930, o teatro recebeu pinturas murais barrocas feitas pelos irmãos Ernesto Tommasi e Mário Thomazi, com figuras históricas do Brasil e da Itália, brasões e máscaras teatrais. A presença de um zepelim nas pinturas auxilia na datação do conjunto entre 1930 e 1936. Posteriormente, foi construído um segundo pavimento no bloco frontal, com salas adicionais e uma cozinha no térreo. Essa ampliação trouxe novos elementos, como janelas retas e únicas, varanda balaustrada, frontão clássico e pinhões, conferindo caráter eclético ao edifício. A escadaria e os acabamentos em madeira foram feitos pela Oficina Nardin. As salas superiores receberam pinturas em estêncil, atribuídasa LuizAbelMoretti(1928).Nos fundos,foi construída uma residênciaparao maestro, e, na décadade 1950, uma nova cozinha lateral alteroua simetriada fachada.Ascores originais da edificação ainda serão determinadas após prospecções.

CARLOS ZANOTTA

CARLOS ZANOTTA

Carlos Zanotta (1845–1931), italiano de origem, imigrou para o Brasil e destacou-se como construtor em obras públicas e hidráulicas em Pelotas, Cuiabá e principalmente em Piracicaba, onde atuou na implantação do sistema de água e executou importantes construções como o Teatro Santo Estevão e a sede da Società Italiana. Fundador da Companhia de Melhoramentos Urbanos e empresário, criou em São Paulo a “Zanotta, Lorenzi & Cia.”, responsável pela produção do Guaraná Espumante e, mais tarde, pela aquisição da marca de chocolates Lacta. Faleceu aos 85 anos, deixando grande contribuição à arquitetura e à indústria nacional.

4. Histórica das Pinturas Artísticas da Società

PINTURAS DE PERSONALIDADES

RITRATTI DI PERSONALITÀ

As pinturas murais do Teatro da Società Italiana di Mutuo Soccorso, realizadas em 1930 pelos irmãos Ernesto Tommasi (italiano) e Mário Thomazi (piracicabano), destacam-se pelo estilo Barroco, com motivos florais, vasos e rocalhas, além de 10 retratos de figuras ilustres do Brasil e da Itália, como Regente Feijó, José Bonifácio, Dante Alighieri, Colombo, Carlos Gomes, Leonardo da Vinci, Galileu, Marconi, Michelangelo e Verdi. Há ainda representações do Zepelim sobrevoando a cidade do Rio de Janeiro, os brasões do Brasil e da Itália e as máscaras de drama e comédia. A presença do Zepelim permite datar as obras entre 1930 e 1936, período das primeiras viagens do dirigível ao Brasil.

IRMÃOS TOMMASI

FRATELLI TOMMASI

As pinturas murais do teatro da Società Italiana di Mutuo Soccorso, em Piracicaba, foram realizadas pelos irmãos Ernesto Tommasi e Mário Thomazi, reconhecidos pela contribuição à pintura decorativa e ao realismo ingênuo. Ernesto, nascido na Itália em 1886, imigrou ainda criança para o Brasil e destacou-se em São Paulo como decorador de igrejas e teatros, sendo premiado com a Medalha de Bronze no Salão de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Foi homenageado postumamente em Piracicaba. Mário Thomazi, nascido em 1895 em Piracicaba, iniciou sua carreira aos 14 anos, influenciado pelo irmão e por mestres italianos. Atuou intensamente entre 1910 e 1970, decorando igrejas, teatros e realizando cenografias em cidades paulistas, além de Minas Gerais e Paraná. Sua produção divide-se entre a pintura sacra, de caráter mais erudito, e a pintura livre, marcada por lirismo e apego à terra natal. Produziu aquarelas inspiradas nos desenhos de Giacomo Barafon, além de vitrais, estudos ornamentais e registros iconográficos de Piracicaba. Considerado um dos principais representantes do realismo ingênuo paulista, teve sua obra dispersa entre colecionadores, exigindo esforços de catalogação. Em 1957, integrou o júri do V Salão de Belas Artes de Piracicaba. Faleceu em 1974, em sua cidade natal.

Pinturas artísticas das personalidades de Brasil e Itália, retratadas pelos irmãos Tomazzi

Fotos internas gerais do Teatro da Società